Se tem algo que me irrita nesta polarização político-ideológica que tumultua o Brasil é a tendência separatista de certos expoentes da direita.
Outro dia, o Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, veio com aquele papo antigo de que o Sul e o Sudeste são as locomotivas do Brasil, enquanto nortistas e nordestinos seriam aqueles que dão prejuízo ao Estado por conta dos benefícios sociais que recebem. O político que se arvora como uma opção de liderança na direita brasileira divide o Brasil entre os produtivos e os vagabundos. Zema desconhece ou finge desconhecer que muito do que se produz abaixo da Linha do Equador é com mão de obra de nordestinos.
É preconceito que fala?
Será que Zema ousaria afirmar que a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) produz, enquanto as 900 mil famílias que vivem em situação de hipossuficiência no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais só vivem de auxílio do Governo? Vale dizer que mesmo a RMBH possui bolsões de pobreza. O Governador do partido Novo diria, por exemplo, que os moradores de Funilândia (município com baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da RMBH são sustentados pelos magnatas de Belvedere (bairro no extremo sul da capital mineira onde vive a elite milionária e até bilionária do estado).
Outro que veio à sena com preconceito separatista foi Gustavo Gayer. O Deputado Federal do PL de Goiás associou taxas de analfabetismo no Nordeste com a vitória de Lula em 2022. No seu perfil no Twitter o bolsonarista compartilhou vídeo com dados desatualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relacionados aos índices de analfabetismo no Brasil por região. A ideia foi "lacrar" com a insinuação de que no Nordeste só tem analfabetos o que justificaria a hegemonia de Lula na região.
Quando julgava que a coluna já estava fechada para o "Questão de Opinião" desta semana, deparei-me com uma postagem de O Antagonista que não poderia ficar de fora da análise. A notícia intitulada "Lula esnoba o Sul" faz referência a uma análise da Crusoé sobre as agendas presidenciais que mostra que o presidente fez somente uma visita ao Sul do país em cinco meses de governo. A matéria insinua que o petista faz pouco caso do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em decorrência da baixa aprovação que possui na região. Ao mesmo tempo reforça a ideia de que existem dois Brasis em conflito.
Os três exemplos trazem as mesmas consequências:
Por um lado, o lulopetismo se esbalda. Lula e Janja devem assistir a estas performances da direita lacradora, comendo pipoca (no caso do Lula, quem sabe tomando um mé) enquanto aplaudem a imbecilidade bolsonarista. Com efeito, para a esquerda não fica nem um pouco difícil emplacar a narrativa de que os neoconservadores brasileiros são preconceituosos. Muitos deles de fato o são.
Por outro lado, os três exemplos tiram das sombras os separatistas. Nos três casos houve a imediata manifestação de grupos que há tempos se mobilizam para separar o sul do restante do país. Esses grupos, embora ainda não apareçam tanto nas discussões políticas, estão se sentindo cada vez mais encorajados a trazer à luz essa ideia insana de ruptura.
Preocupa saber que políticos com mandato e representantes da imprensa contribuem deliberadamente para esse movimento. E não me venham dizer que foi por engano! Zema, Gayer e o Antagonista/Crusoé sabem exatamente o que fazem. Estão "medindo a febre". Não são inocentes, são golpistas.
Mas golpista não seria uma palavra muito dura para esse caso?
NÃO! A Constituição Federal deixa claro logo no artigo 1º que o Brasil é formado "pela união INDISSOLÚVEL dos Estados e Municípios e do Distrito Federal". Ou seja, qualquer empenho no sentido secessionista vai de encontro com o fundamento de organização do Estado Brasileiro. Logo, representa uma ruptura institucional, vulgarmente conhecida pelo nome de GOLPE!
Opinião do colunista Agnaldo Borcath