Fato é algo cuja existência pode ser constatada de modo indiscutÃvel. Daà dizer-se que "contra fatos não há argumentos". Um mesmo fato, no entanto, pode gerar mais de uma interpretação. Os acontecimentos sociais não são interpretados de forma igual por todos que os observam. Cada observador buscará analisá-los de acordo com suas próprias convicções.
Vamos aos fatos geradores deste opinativo:
Fato 1: Luciane Barbosa Farias, a "primeira dama do tráfico no Amazonas" fez duas visitas ao Ministério da Justiça em 2023. As visitas ficaram registradas de várias formas, tanto é que ninguém se atreveu coloca-las em dúvida.
Fato 2: O Ministério da Justiça divulgou nota dizendo que atendeu solicitação de agenda da Associação Nacional da Advocacia Criminal, com a presença de várias advogadas e que Luciane não foi a requerente da audiência, mas acompanhou o grupo.
Fato 3: O secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, admitiu que errou em ter recebido a mulher de um dos lÃderes do Comando Vermelho no Amazonas. Claro que nesse caso o agente público reconheceu o óbvio. Foi erro grosseiro e gravÃssimo, não restam dúvidas.
Dos fatos postos derivam as interpretações. Como não poderia ser diferente, a direita brasileira aproveita o ensejo para requentar uma suposta associação entre o Ministro da Justiça, Flavio Dino, e o crime organizado. Dino que já fora acusado de associação com facções criminosas, por conta de uma visita ao Complexo da Maré, Rio de Janeiro, no inÃcio do ano, agora, certamente terá de voltar à Câmara dos Deputados para explicar a visita da dama do tráfico ao Ministério comandado por ele.
A esquerda busca interpretar os acontecimentos de forma a isentar o Governo de qualquer responsabilidade pelos episódios.
Porém, se por um lado é forçada a interpretação de que as visitas associam Flavio Dino ao Comando Vermelho, por outro, não se pode deixar de reconhecer a gravidade dos fatos.
Conforme estabelece no Decreto nº 11.348, de 1º de janeiro de 2023, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) é responsável também pelo combate ao tráfico de drogas e crimes conexos. Nesse caso, a visita de alguém com ligação estreita com o crime organizado, não pode ser encarada com naturalidade, como se fosse um mero erro de procedimento.
Assim como não soaria natural um chefe do tráfico de drogas de uma região tomar um cafezinho de forma amistosa com o Delegado de PolÃcia daquela jurisdição, não se pode normalizar a entrada no MJSP, com direito a fotos de ostentação, da esposa de um criminoso condenado. Vale dizer que, também sobre a "primeira dama" repousa fortes indÃcios de participação criminosa apontados pelo Ministério Público.
O erro é grosseiro e, por sua gravidade, deveria ensejar a demissão imediata do Secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz. Aliás, se estivéssemos em um paÃs de instituições sérias, o próprio agente público já teria se antecipado e pedido o desligamento.