Tão logo Luiz Inácio anunciou a indicação de Flávio Dino para ocupar a vaga deixada por Rosa Weber no STF, ouviu-se o grito de revolta dos progressistas que entendem que deveria ter sido uma mulher a indicada. O problema é que Lula nunca foi um progressista. Sua atuação, desde os tempos de líder sindical, sempre foi pragmática.
Para explicar meu ponto, deixe-me, ainda que de maneira superficial, trazer as duas definições – a de progressismo e a de pragmatismo político – para que, ao final, possa dizer o porquê entendo que em Lula uma veste melhor do que a outra.
Começo pelo progressismo:
Existem muitas divergências entre estudiosos quanto ao conceito de progressismo. De modo geral, o termo progressista é usado tanto para se referir a quem tem ideias de esquerda, quanto para classificar militantes que defendem bandeiras identitárias, tais como, movimentos feministas, LGBTQ+, negro, ambientalista ou pró-descriminalização das drogas, entre outros.
Para os progressistas existe uma relação de forças na sociedade em que as minorias são sempre afastadas de qualquer processo social pela prevalência das maiorias. De acordo com esta visão de mundo, a luta política é válida quando ela se dá pela busca do estabelecimento de uma igualdade substancial, conforme se diz na frase de Aristóteles: "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade".
Já o pragmatismo político pode ser entendido com uma só palavra: OPORTUNISMO. Podemos encontrar os fundamentos desta linha de conduta em "O Príncipe", de Maquiavel. Para o filósofo de Florença, ao governante é necessário fazer de tudo (o bem ou o mal) para continuar no poder, pois o que realmente importa é uma finalidade específica. Erroneamente, se atribui a ele a frase "os fins justificam os meios". Porém a ideia aparece em sua obra, que não se propunha ser um manual de conduta, antes buscava examinar a realidade com ela era. O que o autor de fato disse e que mais se aproxima da frase a ele atribuída foi: "o príncipe deve fazer o bem sempre que for possível, e o mal quando for necessário".
Lula prefere Maquiavel a Aristóteles.
Lula sempre agiu por pragmatismo político. Quando era líder do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tinha de sentar à mesa com patrões para fazer acordos. O que é negociar, senão abrir mão de certas convicções para o atingimento de um fim? Quando se lançou candidato à presidência da República em 1989, tinha postura extremamente radical, que simplesmente desapareceu quando assumiu como presidente em 2003. Antes disso, perdeu as eleições 1998 com Brizola de vice, o mesmo que anos antes o havia chamado de bobalhão e vagabundo.
A resistência que a militância petista impõe a Alckimin no presente, não difere da imposta a José Alencar em 2002, quando o empresário foi escolhido para ser vice na chapa vitoriosa de Lula. Ambos foram mantidos por Luiz Inácio, independentemente dos esperneios, por conta de seu inafastável pragmatismo político.
Lula, durante seus dois mandatos anteriores, teve uma postura de pragmatismo ao negociar com o Congresso. Para o Presidente, não é nada difícil fazer os famosos acordões com o centrão fisiológico. Acomodar interesses de desse ou daquele partido político? Criticar os decretos de sigilo de dados do adversário e depois fazer igual? O faz na mais absoluta tranquilidade.
O pragmatismo de Lula o leva, inclusive, a se fazer de progressista por mera conveniência política.
Portanto, agora não adianta os progressistas se espernearem. Lula vai manter a indicação de Dino para o STF. E o fará porque isso é o mais conveniente para o presidente. Luiz Inácio é do tipo que faz o bem quando possível, mas não hesita fazer o mal sempre que julga necessário.