Na quinta-feira (14) Dilma Rousseff tomou posse como diretora do banco dos Brics. No primeiro discurso em Xangai, a ex-presidente afirmou que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) "foi uma demonstração da importância de estabelecer uma estratégia e uma parceria, compartilhando as necessidades desses países do Sul, do Sul Global, ou seja, o Sul que é esse Sul que quer emergir e que conta com países do Norte".
Foi o que bastou para que parte da imprensa e políticos lacradores se apressassem em transformar a fala em meme, acrescentando mais uma gafe ao grande acervo de Dilma em sua trajetória de oradora.
Mas, o que há de errado com a fala de Dilma Rousseff?
NADA!
Sul Global, no contexto do discurso de Dilma, diz respeito aos chamados países "periféricos", conceito utilizado por estudiosos das Relações Internacionais e da Ciência Política contemporâneas. Não se trata, portanto, de conceito que considera a posição geográfica dos países, mas de uma descrição de um grupo de países de acordo com características socioeconómicas e políticas.
Assim, o Norte Global corresponde à Europa Ocidental, à América do Norte, à Austrália, a Israel, ao Japão e à Nova Zelândia, enquanto o Sul corresponde aos países em desenvolvimento - anteriormente conhecidos como "Terceiro Mundo" - da Ãsia, Ãfrica, América Latina e Caribe, etc.
Por desconhecimento ou desonestidade intelectual, na tentativa afoita de menosprezar a ex-presidente Dilma, parte da imprensa e da direita tosca ignorou conceitos da geopolítica atual. As duas hipóteses se mostram nocivas ao debate público.
Opinião do colunista Agnaldo Borcath Foto: Reprodução Instagram @dilmarousseff