07/01/2025 +55 41996924592

PolĂ­tica

A NOTICIA A UM CLIQUE

Oportunismo Capacitista

Questão de Opinião / Agnaldo Borcath

Por Tamandaré Notícias 24/04/2023 às 23:05:32

Quando em 09 de agosto de 2021, o então ministro da educação, Milton Ribeiro, disse em entrevista à TV Brasil que "as crianças com deficiĂȘncia atrapalham o aprendizado dos outros", houve um coro de indignação, ao qual me somei, apontando o capacitismo presente na declaração. Agora, em 2023, quando o presidente Lula afirma que "são quase 30 milhões com problema de desequilíbrio de parafuso" e associa crimes em escolas à deficiĂȘncia intelectual, novamente me junto às vozes indignadas contra mais uma fala preconceituosa.

Sabe por que me indignei lĂĄ, me indigno aqui e vou me indignar sempre que presenciar atos capacitistas? Porque não considero a causa das pessoas com deficiĂȘncia – que é a minha causa - como mero expediente de ataque a adversĂĄrios políticos.

Vou te explicar meu ponto, mas primeiro deixe-me te contar o que é capacitismo, pois trata-se de termo relativamente novo e que até pouco tempo - precisamente até a fala do Lula - era tratado por alguns como "mi mi mi".

Capacitismo é a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiĂȘncia. A ideia capacitista surge do senso comum de que tais pessoas tĂȘm todas as capacidades limitadas ou reduzidas e que, portanto, não são autônomas para gerir a própria vida. Essa compreensão, assimilada socialmente ao longo dos anos, se materializa em atitudes que excluem e oprimem quem tem alguma deficiĂȘncia, como exemplificam as falas de Milton e Lula. Outro exemplo de atuação capacitista foi a de Bolsonaro quando perguntou com deboche como um atleta surdo gritaria "eu ganhei" nas Sordolimpíadas em 2021.

Falado do capacitismo, falo agora do oportunismo que também é capacitista.

Quando gritamos contra o preconceito que se institucionalizou no governo passado, fomos tachados de vitimistas. Quando nos insurgimos contra humoristas que usaram pessoas com deficiĂȘncia para tornar mais engraçadas suas apresentações de stand up, disseram que estĂĄvamos contra a liberdade de expressão. Aquela emissora velha que tem nome de jovem – que talvez seja a melhor representação do reacionarismo brasileiro – sempre lançou mão dos seus "veja bem", "não é bem assim", etc., para minimizar atitudes de preconceito explícito. De uma hora para a outra, todos passaram a usar novos pesos e novas medidas para se tornarem vexilĂĄrios de uma causa. Por quĂȘ? Porque o capacitista da vez não é o mito.

É OPORTUNISMO QUE FALA!

Diferente não é o caso daqueles que, pela veemĂȘncia com que gritaram contra Milton e Jair lĂĄ atrĂĄs, até pareciam verdadeiros militantes da luta pelos direitos das pessoas com deficiĂȘncia, mas agora se omitem em face da fala de Lula. O que grita agora, é o silencio dessa gente em face do capacitismo de seu representante. Por quĂȘ? Porque o capacitista da vez é o ídolo da esquerda.

O oportunismo também é capacitismo.

Enquanto se seleciona qual violação de direitos receberĂĄ críticas, se vira às constas para as pessoas com deficiĂȘncia. Não importam as lutas e os direitos. Não importa a nocividade do capacitismo. O que importa para os oportunistas é a contemplação desse ou daquele lado na arena da disputa política. Vale mais beijar a mão do ídolo político e cuspir no adversĂĄrio, nem que para isso, eventualmente, seja necessĂĄrio fazer de contas que se importa com a diversidade, com a inclusão, com a acessibilidade e com o preconceito. Nesse senĂĄrio, as pessoas com deficiĂȘncia e suas lutas por autonomia e vida digna são tratados como meros joguetes de lados opostos.

Certo é que nunca faltarĂĄ um "herói" de ocasião que se levantarĂĄ para vociferar um suposto altruísmo e se arrogar porta-voz de todos os deficientes. Mas só quando for conveniente! Quanto a nós, os que militamos genuinamente pela causa, não nos interessa a rasteira disputa política, o que nos move é a constante necessidade de nos opormos a todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação contra as pessoas com deficiĂȘncia, venha do lado que vier.

Opinião do colunista Agnaldo Borcath.

Comunicar erro
ComentĂĄrios