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PolĂ­tica

A NOTICIA A UM CLIQUE

Em meio a tanto "Disse me Disse", o que foi mesmo que disse o governador de Minas Gerais?

Questão de Opinião / Agnaldo Borcath

Por Tamandaré Notícias 07/08/2023 às 19:48:33

É certo que Romeu Zema não disse, literalmente, que a proposta de criação de um grupo entre os estados do Sul e do Sudeste seria uma "frente contra o Nordeste". Todavia não se pode negar que suas falas na entrevista para o Estadão deixam margem para a interpretação.

Não é novidade nas entrelinhas dos discursos do Governador de Minas Gerais a presença de uma ideia "separatista" entre as regiões do país. Em junho deste ano, o novista causou polĂȘmica ao afirmar que nos estados do Sul e do Sudeste "hĂĄ uma proporção muito maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial", em comparação com outros estados da Federação. Ora, se alguém fala algo que causa uma repercussão negativa, se espera que seja mais cauteloso dali para frente, a fim de se evitar interpretações diversas da ideia que pretende expressar. A não ser que a dubiedade na exposição de ideias seja método para se atingir um objetivo.

Na entrevista ao Estadão, Romeu Zema optou por dobrar a aposta. Comparou o Nordeste – e os nordestinos – a vacas improdutivas: "Se não vocĂȘ vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito", afirmou.

O governador poderia argumentar em seu favor com o senso comum: "sou responsĂĄvel somente pelo que eu digo, não pelo que as pessoas interpretam". Porém em política não é bem assim. Embora a frase soe verdadeira e até cause algum bom efeito quando estampada nas timelines das redes sociais, ela esconde uma irresponsabilidade perigosa.

Cada um também é responsĂĄvel, sim senhor, pelo que suas palavras dão (ou podem dar) a entender. Especialmente, para aquele que se encontra no debate público e que se vale das narrativas para o enfrentamento ideológico, a atenção com o que diz deve ser redobrada, porque raramente poderĂĄ valer-se de uma suposta não intencionalidade para remediar suas falas mal ditas.

Minha incredulidade quanto às boas intenções de Zema estĂĄ atrelada, também, ao viés ideológico com o qual ele se abraça e com o público que deseja conquistar. Observe-se que, na mesma entrevista em que defende a união entre os estados do Sul e do Sudeste para fazer frente a um suposto protagonismo do Nordeste, o político apela para uma "direita unida contra a esquerda". E mais, afirma que Bolsonaro é figura fundamental para a formação de uma ideia de direita unificada no brasil.

Some-se a isso a forma como certa ala do bolsonarismo acolhe a retórica do Zema e se concluirĂĄ que o pretenso líder da direita parece não estar querendo trilhar o caminho da moderação. ComentĂĄrios do tipo "o Sul é quem paga a conta dos benefícios recebidos pelos nordestinos" pululam na internet, insuflados pelas falas de Zema. O Sul, no caso, se representa no trabalhador produtivo, enquanto que o Nordeste é a "vaquinha que não produz".

E nesse "disse me disse" entremeado por falas mal ditas, Zema se preocupa menos com o que dizem seus adversĂĄrios, e mais com a interpretação dos que estão alijados eleitoralmente de Bolsonaro. No final das contas, é certo que hĂĄ mais coisas entre a literalidade das palavras e as entrelinhas dos discursos do que conseguem alcançar as mentes mais ingĂȘnuas.

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