Ano eleitoral é uma dança das cadeiras. Tem gente que chega de última hora e embarca no bonde da situação. E tem aqueles que, sem mais nem menos, se jogam na oposição. Dessa forma, como diz a canção de Fernando Brant e Milton Nascimento, "chegar e partir são só dois lados da mesma moeda".
Não é raro aquele tamandareense médio que fica por um mandato inteiro como aliado da situação e, ao final do baile, busca guarida em outro grupo político. E isso acontece, em regra, porque a pessoa entende ser politicamente mais vantajoso dançar conforme outros ritmos. É um cálculo político que normalmente se esconde em uma desculpa qualquer.
Decorrido um trimestre deste ano eleitoral, já se pode ouvir o canto dos debandantes. E a letra, salvo poucas variações, tem três fases:
A primeira é a fase das juras de amor eterno.
Para caracterizar essa fase, por que não citar Vinícius de Morais? "De tudo, ao meu amor serei atento. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento". (Soneto de Fidelidade). Tudo começa como uma chama que arde sem se ver. Ou se vê? Fato é que o sujeito passa sete anos com juras de amor eterno á gestão. Chega a brigar com qualquer pessoa que ouse criticar a administração. É só canto em louvor ao prefeito, e "que seja infinito enquanto dure".
Segunda fase: a indecisão.
Já ao aproximar-se do último ano de mandato, eleições à vista, o sujeito começa a ser assediado por outros grupos políticos. Aí ele não para de refletir sobre a vida e pensar sobre qual o melhor caminho a seguir. Nessa encruzilhada política, ele canta ao ritmo de Chico Leite: "Não sei se vou ou fico. Não sei se fico ou vou".
Tudo termina em traição.
A depender das propostas e das vantagens nelas implicadas, a pessoa resolve chutar o pau da barraca e ir batucar noutro trio elétrico. Ao sair, queixa-se sutilmente de alguma situação específica, de alguma mágoa passada e joga no autofalante: "Não vou dizer que foi ruim. Também não foi tão bom assim. Não imagine que te quero mal. Apenas não te quero mais". (Lulu Santos: Assim Caminha a Humanidade).
Para não dizer que não falei de flores, há também aqueles que permanecem fieis, independentemente do vento. Porém, embora se reconheça o imenso valor moral da fidelidade, é na desventura da traição que se escondem as músicas mais apreciadas.