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Opinião

FALA DE LULA NA ETIÓPIA: Esta se coando um mosquito para se engolir um elefante

Questão de Opinião / Agnaldo Borcath


Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil pela terceira vez, achou-se em posição de provocar os países ricos a ofertarem mais ajuda ao povo palestino. Neste contexto, valeu-se da autoridade de chefe de Estado para manifestar preocupação com relação à crise humanitária em Gaza. O pronunciamento se deu em Adis Abeba, na Etiópia, durante a reunião da cúpula da União Africana.

Contudo a repercussão da fala ganhou contornos de crise diplomática quando Lula comparou o conflito na Faixa de Gaza à perseguição nazista de Hitler contra os Judeus que culminou com o Holocausto: "O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o Presidente aos jornalistas.

Em resposta, Benjamin Netanyahu afirmou que Lula agiu com antissemitismo e o declarou como "persona non grata". Em resumo, o presidente do Brasil virou um barrado no baile, ou melhor, um barrado na fronteira. Não é mais bem-vindo em missões oficiais em Israel.

Quero pontuar duas coisas sobre o tema: Primeiro, a comparação que Lula fez foi equivocada. Segundo, não se pode, com base em um equívoco retórico, ignorar a intenção humanitária que demonstrou o presidente, não só na fatídica entrevista, mas no evento africano como um todo.

Portanto, quero aqui apontar o erro e o grande acerto de Lula no continente africano.

A comparação de Luiz Inácio é equivocada porque traz embutida a ideia de que o massacre liderado por Hitler e chancelado pelo povo alemão teria sido a única atrocidade histórica possível de ser comparada com o que acontece hoje em Gaza. Desconsidera, com isso, que o século XX promoveu outros episódios de genocídio. Exemplo: Em 1994, cerca de 800 mil pessoas foram massacradas em Ruanda. Em cem dias, extremistas étnicos hutus vitimaram adversários políticos e membros da comunidade minoritária tutsi.

Por outro lado, como afirmou o professor de pós-graduação de história social da UFRJ, Michel Gherman, em matéria da BBC Brasil, não se verifica "o processo complexo e gradual de construção da identidade palestina em Gaza como alvos de extermínio por anos como aconteceu com o povo judaico durante o Holocausto".

Neste contexto, é preciso se ter em mente também que, no caso do Holocausto, os judeus não haviam feito nenhum ato terrorista que pudesse ser usado como justificativa para o genocídio. Em outras palavras, Hitler se valeu de um ideário que se construiu ao longo da história para "eleger" o povo judeu como os inimigos a serem extirpados.

Contudo, o fato de reconhecermos as particularidades que tornam o Holocausto único na história, não nos pode tapar os olhos para as atrocidades do presente que estão ocorrendo em Gaza. Falo isso para entrar no segundo ponto: em que pese a comparação de Lula ter sido ruim, a essência humanitária de seu discurso foi excelente.

Quando falo de um discurso humanitário, não me refiro exclusivamente à resposta que o presidente deu na entrevista coletiva. Digo, sobretudo, do discurso na cúpula da União Africana. Lula se manifestou logo após o representante da Palestina na reunião. No pronunciamento, o presidente brasileiro condenou os atentados do grupo terrorista Hamas a Israel e classificou como "desproporcional" a resposta israelense aos ataques. Demonstrou preocupação com a morte de milhares de civis dos dois lados do conflito.

É neste cenário, portanto, que Luiz Inácio considera que o Estado de Israel está cometendo um genocídio, posto que esteja concorrendo para o massacre de milhares de palestinos inocentes.

Lula está errado?

Não.

Hoje, na faixa de Gaza, há um sem número de pessoas inocentes que foram mortas de maneira atroz. Referi-me a uma multidão de homens, mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência etc., que perderam a vida pela covardia levada a efeito pelo Estado de Israel. Falo de famílias desabrigadas, sendo jogadas de um lado para o outro e vivendo em condições desumanas. Digo de seres humanos alijado de qualquer tratamento digno: sem acesso à saúde, à energia elétrica e à água potável.

Lula está muito certo! O Estado de Israel está cometendo genocídio. E que fique bem claro que é o governo extremista de Israel, liderado pelo insano Benjamin Netanyahu, o patrocinador do massacre. Não é a comunidade judaica.

Luiz Inácio está correto em conclamar o mundo para uma consciência humanista, como o fez em seu discurso na Cúpula da União Africana, do qual compartilho um trecho a seguir:

"Ser humanista, hoje, implica condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da população. A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino. Um Estado palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas".

Portanto, o que mais importa nesta história? A fala infeliz do presidente Lula, ou o genocídio perpetrado por Netanyahu e denunciado pelo próprio Lula?

Não amigos, não serei eu a coar um mosquito para engolir um elefante.

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