Pesquisa inédita faz raio-x desse público, aponta gargalos e propõe caminhos para promover mais oportunidades. Dos 217 milhões de habitantes que o Brasil possui, cerca de 49 milhões são jovens e 34 milhões são jovens de baixa renda (69,3%). Isso significa que, no Brasil, dois a cada três jovens são de baixa renda. Cerca de 1/3 desse público estuda atualmente e 44,7% estão empregados. Esses e outros dados preocupantes fazem parte do levantamento inédito do Observatório Sistema Fiep, que também aponta soluções.
Nem sempre as oportunidades se conectam a quem as busca. Porém, quando "essa conta não fecha" é preciso procurar entender os motivos de maneira completa e quais as soluções mais viáveis.
De um lado existe a demanda do mercado de trabalho, que precisa de profissionais e, do outro, pessoas que precisam trabalhar. Então, como ligar esses dois pontos? A resposta chega ao entender o cenário aprofundado dessas pessoas, suas dificuldades e o que imaginam do futuro para, assim, criar formas de enfrentar e reverter essa situação.
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O estudo tem como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), de 2012 a 2022, além de outros trabalhos acadêmicos recentes, e revela o perfil socioeconômico, educacional, digital e o trabalho da juventude brasileira de baixa renda. Englobou os jovens de 15 a 29 anos e com renda familiar mensal de até meio salário-mínimo por pessoa, ou renda total de até três salários-mínimos. Após um período de investimentos em políticas públicas focadas nas demandas da juventude de baixa renda, a pandemia trouxe um impacto extremo para esse público, que passou a ter menos acesso à educação, ao trabalho e à inclusão digital.
Para vislumbrar um futuro diferente das dificuldades financeiras atuais, o trabalho aparece como estratégia primordial, como aponta a coordenadora de Estudos e Tendências do Observatório Sistema Fiep, Michele Stumm. Ao analisar os dados, ela explica que essa realidade apresentada pelos dados da pesquisa, em um primeiro momento, pode trazer a falsa ideia de desinteresse por parte dos jovens. Porém, há um processo de desalento muito forte, potencializado pelo período de pandemia, quando muitos deles precisaram deixar os estudos para trabalhar em atividades informais, como de motoboys ou auxiliares, ou conciliá-los de uma forma exaustiva e sem qualidade.
Alguns dos dados apresentam essas realidades:
15,5% dos jovens de baixa renda estão desempregados, mas gostariam de estar trabalhando.
Quase 40% desses jovens não são economicamente ativos, ou seja, estão fora do mercado de trabalho por incapacidade, desistência ou vontade própria.
Mais da metade dessa juventude que têm uma ocupação não têm carteira assinada.
53% desse público cursam o Ensino Médio, 15% não concluíram o Fundamental e só 28% estão no Ensino Superior.
"Outra questão que marcou foi a da inclusão digital. Muitos jovens de baixa renda não conseguiam a inserção no mercado com trabalhos remotos por falta de ferramentas que possibilitassem isso. A maioria se conecta pelo celular", explicou Michele. Como mostra a pesquisa, somente 28,3% das pessoas jovens de baixa renda no Brasil possuem computador em casa e 71,2% têm o serviço de internet banda larga.
Juventudes plurais e muitas realidades
A pesquisa é plural e procurou mostrar como realidades diferentes impactam de maneiras distintas as vidas futuras desses jovens. Alguns comportamentos da sociedade que fazem parte da vida da juventude brasileira de baixa renda foram identificadas no estudo. Os mais perceptíveis são que eles sofrem discriminações raciais, de classe, gênero e região.
"Ser uma mãe jovem, negra e na periferia é uma realidade muito mais complexa do que ser uma jovem branca de classe média. A categoria juventude não pode ser homogeneizada e gerar conclusões sem considerar as especificidades", contextualizou Raquel Valença, gerente de Estudos, Pesquisas e Tendências no Observatório Sistema Fiep, durante a apresentação.
Para que um novo estudo, daqui a alguns anos, possa trazer resultados mais animadores e equilibrados, é preciso que sejam adotadas ações práticas, além do reconhecimento desses meios de vida, que apresentam múltiplas necessidades e, portanto, abordagens diversas. Uma das conclusões dessa iniciativa é de que a juventude de baixa renda divide seu tempo entre estudo e trabalho e por isso encontra mais dificuldades para concluir o Ensino Médio.
Segundo a área, o objetivo da pesquisa é pensar em soluções pra melhor desenvolver esses jovens e assegurar a cidadania para que possam fazer girar a própria economia do país. A ideia do estudo é juntar forças para impactar os números relevantes. Segundo os pesquisadores, é compromisso da sociedade não cruzar os braços e ajudar nesse desenvolvimento, unindo pessoas, cidadãos, instituições públicas, de educação, terceiro setor e todos que podem formar uma rede de transformação para jovens de baixa renda.
Cursos gratuitos
O Senai oferece cursos gratuitos de formação e capacitação profissional com foco na indústria. Existe uma alta demanda por mão de obra qualificada, mas muitas vezes as vagas para os cursos de capacitação gratuitos não são preenchidas. Algumas opções ofertadas são base para trabalhos nos mais diversos segmentos da indústria, como os técnicos em Desenvolvimento de Sistemas, em Eletromecânica e em Eletrotécnica.
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