Segundo Ahmed Ijheish, pai e irmão pararam de responder às mensagens no domingo (9). Ele tenta encontrar uma forma de trazer os dois pra o Brasil. Ahmed Ijheish, palestino que vive em Curitiba
Reprodução/RPC
Ahmed Ijheish, palestino nascido na Faixa de Gaza e que vive em Curitiba desde 2017, está com medo do que pode ter acontecido com o pai e o irmão dele, que vivem no território sob conflito.
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Desde sábado (7), quando o grupo terrorista Hamas atacou Israel, Ahmed pensa em uma forma de trazer a família para o Brasil, ao mesmo tempo que vive a incerteza de saber onde eles estão. Segundo o professor, pai e irmão pararam de responder no domingo (8).
"Não me retornaram, não conversei com eles. Única coisa que [o pai] mandou foi um coração vermelho e falou tudo bem. Deu sinal, depois não consegui conversar com ele [...] Crises de ansiedade, porque a cada minuto to entrando [na internet]. Não to preparado pra cenário assim, ruim, que possa acontecer".
Ahmed tem 30 anos, é professor de inglês na capital paranaense e é naturalizado brasileiro.
Segundo o professor, o irmão Raed, de 33 anos, é deficiente visual. Já o pai, Jihad, de 52 anos, é cardíaco, o que aumenta a preocupação de Ahmed.
Jihad Ijheish, 52 anos
Arquivo pessoal
Os dois moram no bairro Al-Rimal, no centro da cidade de Gaza, área próxima de uma região bombardeada. Muitas pessoas que vivem naquela região estão sem luz, água e internet, segundo Ahmed.
"Quando vejo tudo isso dá aquela tremedeira no coração, tipo, 'meu Deus, o que pode acontecer agora?'' Eu to aqui resolvendo minha vida, tentando fazer minhas coisas, só que, quando se trata de escrever na pesquisa no Google, dá aquela tremedeira", disse.
Ahmed mora em Curitiba com a mãe e duas irmãs. Ele contou que eles tinham uma vida estável, mas o medo fez eles se mudarem. Por conta da guerra entre Israel e Palestina, a família perdeu parentes e amigos.
Até esta quarta-feira (11), mais de duas mil pessoas morreram por causa do confronto, que começou após um ataque do Hamas contra Israel. Dois brasileiros estão entre as vítimas. Uma está desaparecida. Leia mais abaixo.
Raed Ijheish, 33 anos
Arquivo pessoal
Pedido para Embaixada
O professor contou que entrou em contato com a Embaixada do Brasil na Palestina e explicou a situação. Se apresentou como cidadão brasileiro e contou não tinha comunicação com os familiares.
Depois, no domingo (8), a embaixada fez contato e pediu o passaporte de Ahmed e dos familiares, mas por ora, não há novidades.
Ele relata que as autoridades estão pedido para moradores daquela região saírem de casa.
"Tanto pros palestinos quanto pros israelenses. Não tem ninguém que que tá sendo beneficiado dessa guerra. O único beneficiário dessa guerra são os políticos", completou.
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Orientações do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores informa aos brasileiros que os interessados na repatriação serão divididos em listas de prioridade. Em um primeiro momento, serão priorizadas pessoas que moram no Brasil e que estão sem passagem aérea.
Em relação aos brasileiros que estão na Faixa de Gaza, que tem sido alvo de bombardeios nesta segunda-feira, o Itamaraty informou que o Escritório de Representação em Ramala está em contato com brasileiros, e está elaborando um "plano de evacuação" da região em conjunto com a embaixada brasileira no Cairo, no Egito.
O g1 questionou o Itamaraty sobre a vinda de parentes de brasileiros naturalizados como Ahmed para o país e aguarda retorno.
Contatos para brasileiros
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a embaixada do Brasil em Tel Aviv disponibilizou em seu site um formulário para inscrição de brasileiros interessados nos voos de repatriação. A embaixada transmitirá instruções para deslocamento ao aeroporto de Ben-Gurion à medida que se confirmem os voos.
O site da embaixada é: https://www.gov.br/mre/pt-br/embaixada-tel-aviv
No sábado, o ministério também informou três contatos para brasileiros em situação de emergência – os três, com o aplicativo WhatsApp instalado:
Escritório em Ramala: +972 (59) 205 5510
Embaixada em Tel Aviv: +972 (54) 803 5858
Plantão consular geral, em Brasília: +55 (61) 98260-0610
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O que aconteceu até agora?
?? Como foi o ataque? As ações do Hamas no último sábado (7) se concentraram perto da fronteira da Faixa Gaza, de onde Hamas lançou 5 mil foguetes.
Por terra, ar e mar, com motos e parapentes, homens armados invadiram o território israelense pelo sul do país.
Houve relatos de que os invasores atiraram em pessoas que estavam nas ruas e sequestraram dezenas de israelenses (incluindo mulheres e crianças), levados como reféns para Gaza.
?? Como foi a resposta de Israel? Diante da ofensiva do Hamas, o governo israelense iniciou uma retaliação.
"Estamos em guerra e vamos ganhar", disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, logo após o ataque. "O nosso inimigo pagará um preço que nunca conheceu."
Ainda em 7 de outubro, Israel lançou bombas em direção à Faixa de Gaza.
?? Quantas pessoas morreram? O balanço mais recente das autoridades locais indicava, na manhã desta terça-feira, que mais de 2.255 pessoas morreram. Mais de 1.200 foram em Israel. O Ministério da Saúde de Gaza informou ter registrado 1055 mortes de palestinos.
?? O que é e onde fica Faixa de Gaza? É o território palestino localizado em um estreito pedaço de terra na costa oeste de Israel, na fronteira com o Egito.
Marcado por pobreza e superpopulação, tem 2 milhões de habitantes morando em um território de 360 km².
Para se ter uma ideia desse tamanho em comparação com cidades brasileiras, o território é um pouco maior que o da cidade de Fortaleza (312,4 km²) e menor que o de Curitiba (434,8 km²).
Tomada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e entregue aos palestinos em 2005, Gaza vive um bloqueio de bens e serviços imposto por seus vizinhos de fronteira.
?? Qual é o histórico do conflito na região? A disputa entre Israel e Palestina se estende há décadas e já resultou em inúmeros enfrentamentos armados e mortes.
Em sua forma moderna, remonta a 1947, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, na Palestina, sob mandato britânico.
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