Profissionais de diversos países são cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho e é importante ter direcionamento. Imagine começar a carreira profissional em um lugar já conhecido, em uma cultura com a qual já está familiarizado e, em pouco tempo, migrar para outro, da origem da empresa multinacional na qual trabalha, que tem costumes e rotinas completamente diferentes. Depois de uma fase desafiadora de adaptação, gerenciar equipes com profissionais oriundos de várias nacionalidades e obter deles engajamento, trabalho em equipe e alto desempenho, sem esquecer, é claro, de chegar a resultados consistentes para a empresa.
Só de imaginar uma situação como essa, muitos profissionais já começariam a se preocupar. Mas para Giuliano Pento Eichmann, diretor de Engenharia de Processos Latam na Renault Group, o cenário descrito é o resumo de uma carreira de mais de vinte anos na multinacional francesa que tem uma de suas plantas no Paraná, desde 1996.
"Comecei a trabalhar em uma empresa alemã em Santa Catarina e, após dois anos, recebi um convite para atuar na Renault, no Paraná. Além de uma mudança de estado, foi também uma grande mudança cultural. O início foi muito desafiador porque a cultura francesa é muito diferente da alemã, com a qual já estava acostumado. Com o passar do tempo, observando, ouvindo e aprendendo, consegui inclusive migrar para a gestão de equipes e tive a oportunidade de residir em outros países, à frente de equipes multiculturais", conta.
Participante de um evento sobre negócios no Paraná, promovido recentemente pelo Sistema Fiep, Giuliano contou sobre sua experiência de trabalhar com profissionais multiculturais. "Já tive em minhas equipes franceses, brasileiros, colombianos, argentinos, indianos, para citar alguns". Para o gerente, um dos principais desafios ao trabalhar e gerenciar estrangeiros é o idioma. "Essa é uma dica que gosto de compartilhar: ter contato mesmo que básico com o idioma do profissional ou profissionais com quem vai trabalhar é fundamental para entender traços culturais. Foi o que aconteceu comigo quando fui trabalhar na França, em 2004. Somente quando comecei a me enezuelanosfranceses, que é muito particular", conta.
Para Higor Uchoa Menezes, gerente de Relações Internacionais do Sistema Fiep, a questão do multiculturalismo é muito importante para as empresas, uma vez que a cultura do país ou mesmo da região pode influenciar diretamente na cultura organizacional e impactar no relacionamento com os colaboradores. "O gestor de uma equipe multicultural precisa desenvolver qualificações e competências adicionais a de outros gestores", acredita. Para ele, mesmo as diferenças regionais dentro do país, e como essas particularidades são tratadas, podem ser determinantes para os resultados de um time de trabalho.
Na sua experiência junto a colaboradores de diversas nacionalidades, Giuliano destaca que cada povo tem pontos fortes e aqueles que pode desenvolver mais e dá alguns exemplos baseados em suas vivências. "Franceses e argentinos, por exemplo, são muito questionadores. Já os colombianos gostam de sentir a proximidade com gestores e colegas, comportamento fruto de uma sociedade matriarcal. Já nós, brasileiros, somos considerados profissionais muito flexíveis e adaptáveis, mas que são otimistas demais e ainda precisam ter mais planejamento", comenta.
Colegas de várias origens
O Brasil é um dos lugares que recebe muitos imigrantes e refugiados. Desde 2017, com a Lei do Imigrante (nº 13.445/2017), o país possibilitou uma chance de recomeço para muitas famílias. De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, os maiores fluxos migratórios para o Brasil acontecem da Venezuela, Haiti, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos.
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Uma das empresas paranaenses que tem no seu quadro pessoas que imigraram é a Beckhauser, de Maringá. Segundo Mariana Beckheuser, CEO na indústria especializada em equipamentos para manejo de bovinos, o quadro conta com imigrantes venezuelanos. "Acredito que a empatia do brasileiro é fundamental neste processo de integração de pessoas de outras nacionalidades. Mas ainda há quem questione o fato de darmos a estrangeiros vagas que poderiam ser de brasileiros, o que pode gerar algum tipo de rejeição. Uma das preocupações é promover a integração dessas pessoas de fora e acolhê-las adequadamente", comenta.
Para Mariana, é importante que haja sensibilidade no trato de diferenças culturais e isso vem do conhecimento do outro. "Temos buscado trabalhar temas culturais com as equipes para que o comentário que alguns consideram inofensivo não seja motivo de ofensa de um colega para o outro. Dessa forma, fizemos uma parceria com uma ONG que atende refugiados e imigrantes na cidade de Maringá, que tem conversado com nossos colaboradores, inclusive trazendo pessoas para darem depoimentos sobre como é ser um estrangeiro no Brasil. Outra iniciativa que tem dado resultados positivos é a contratação de uma professora de espanhol venezuelana que está dando aulas para a equipe".
Indústrias apoiando a inclusão
Para o gerente de Relações Internacionais da Fiep, Higor Menezes, o brasileiro é um povo fruto da miscigenação. Ele vê a multiculturalidade como um diferencial competitivo para os negócios: um movimento que promove ambientes inclusivos e diversos.
"Trabalhamos em parceria com organizações globais que promovem a conscientização da sociedade para a necessidade de acolhimento do migrante. Temos um papel fundamental na conscientização das indústrias para a contratação dessa mão de obra e como essa diversidade – e outras como etária, de etnia – pode se refletir positivamente nos resultados de negócio".
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