Mesmo com a existência de cotas, trabalhadores com deficiência buscam capacitação para garantir empregabilidade. Conheça cenário Como o trabalho se encaixa na sua vida? Há pessoas que enxergam no trabalho apenas uma forma de garantir o próprio sustento. Mais do que fornecer meios para a sobrevivência, trabalhar tem um papel fundamental na inserção do indivíduo na sociedade ou, como disse Benjamin Franklin, "o trabalho dignifica o homem".
Na Declaração dos Direitos Humanos, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara no Artigo 23 que todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. No Brasil, para promover o acesso de pessoas com deficiências ao mundo do trabalho, existem há mais de vinte anos leis e regulamentos que buscam promover a igualdade de oportunidades e a inclusão, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) e a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/1991), que estabelece a obrigatoriedade de empresas com mais de 100 funcionários reservarem uma porcentagem de vagas para pessoas com deficiência.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, o total de trabalhadores no Brasil é de 99,23 milhões, sendo que PcDs são 4,64 milhões, representando apenas 4,7% do total. Ao comparar com o total de pessoas com deficiência em idade para trabalhar – 17,5 milhões – o número de trabalhadores desse grupo é considerado muito baixo.
Para a coordenadora de Educação e Negócio do Sistema Fiep, Juliana Maia, existem fatores que ainda dificultam a inserção desses profissionais. "Acredito que tivemos muitos avanços nas políticas de inclusão e conscientização, contudo, ainda existem obstáculos evidentes para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na sociedade. Entre eles, o preconceito e a discriminação ainda são barreiras sérias. Existem estereótipos negativos ou desconhecimento sobre as habilidades e capacidades desses trabalhadores" comenta.
Profissionais devem buscar preparo
Atuando há 16 anos na área de educação do Sistema Fiep, Juliana considera fundamental que os profissionais PcD busquem preparo adequado e que as empresas estejam abertas a receber trabalhadores com deficiência adequadamente, seja em questões de acessibilidade, seja de integração com colegas e gestores.
"No nosso trabalho, buscamos o fortalecimento da cultura, conscientização e atitudes de inclusão nas organizações. Nos preocupamos também em capacitar e apoiar os técnicos de ensino do Senai para trabalharem de forma integrada, levando em consideração e apoiando os alunos PcD na construção do conhecimento e aprimoramento de suas habilidades e competências", comenta.
Segundo os mesmos levantamentos do IBGE, o número de trabalhadores PcD no Paraná é de 246 mil, muitos deles desempenhando atividades nas indústrias. Só no Senai Paraná, em 2022, foram 359 alunos PcD matriculados em mais de 30 unidades da instituição para cursos de aperfeiçoamento/especialização profissional; qualificação profissional; aprendizagem industrial básica e cursos técnicos.
Para Juliana "as indústrias têm o papel importante de contribuir diretamente no fortalecimento da cultura de inclusão e diversidade, levando em consideração que pessoas com diferentes habilidades e perspectivas podem trazer novas soluções e abordagens para os desafios enfrentados pelo setor, estimulando a inovação e a criatividade e melhorando a imagem da empresa a partir do atendimento das diferentes demandas do mercado".
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Cotas sim, mas não só isso
Dayane Pereira Rangel é um dos exemplos de como o profissional PcD pode se aprimorar e conquistar boas oportunidades de trabalho. Aluna da turma de Aprendizagem Industrial PcD na unidade do Senai no bairro Boqueirão, em Curitiba, ela conquistou uma vaga em uma grande empresa multinacional instalada na cidade.
"Acredito que existem muitas oportunidades para trabalhadores com deficiência, mas acho fundamental que esse profissional se qualifique para conseguir boas posições. Não se deve apenas se amparar nas cotas. É preciso qualificação. Não adianta querer um trabalho com boa remuneração se não estiver disposto a se desenvolver", acredita.
Sobre o preconceito, Dayane acha que ainda persistem muitas ideias pré-concebidas a respeito do assunto. "Há uma certa discriminação ainda na sociedade, como achar que esse trabalhador não vai 'dar conta' da tarefa. Mas essa crença não deve ser um limitador para nenhum profissional. Nada de ficar de braços cruzados. É preciso erguer a cabeça, ir à luta e correr atrás dos objetivos. Todos precisam se adaptar: nós PcD à sociedade e a sociedade às pessoas com deficiência", finaliza.
Esporte e trabalho promovem a inclusão
Amante do esporte durante toda a vida, Matheus Skrepka não deixou que o acidente que sofreu em 2019, que resultou em amputação de uma de suas pernas, acabasse com a sua alegria em jogar vôlei. "Quando me acidentei, pensei que não poderia mais jogar, mas recebi um convite para experimentar a modalidade de vôlei sentado e me adaptei muito bem. O esporte foi muito importante na minha vida durante o meu período de reabilitação. Eu me senti incluído em um grupo, pois todos eram iguais e tive diversas trocas de experiência com as pessoas que facilitaram a aceitação da minha deficiência. Hoje não me vejo mais longe das quadras", afirma.
Matheus coleciona títulos e vitórias que ultrapassam o esporte e se refletem na vida profissional. Também aluno do Senai, ele acredita que mais empresas deveriam optar pelo projeto de capacitação e aprendizagem como o que ele participa em uma multinacional. "Projetos como esse são de grande importância para nós portadores de deficiências e para muitos que não tiveram oportunidade de se qualificar para o mercado de trabalho. Isso é primordial para outras pessoas como eu porque podem ser recolocados com as mesmas chances e oportunidades de crescimento oferecidas a profissionais que não têm deficiência", acredita.
Oportunidades para quem quer aprender
Juliana Maia acredita que ingressar no mundo de trabalho é um desafio para qualquer pessoa, porém as pessoas com deficiência podem enfrentar obstáculos adicionais. Mas existem estratégias e orientações que podem ajudar a melhorar as oportunidades de emprego para profissionais PcD.
"Primeiramente, é preciso que as pessoas com deficiência conheçam seus direitos e a legislação, familiarizando-se com as leis e disposições que protegem os seus direitos. Compreender isso é crucial para garantir igualdade de oportunidades no ambiente de trabalho. Outro ponto é investir em educação e aprimorar habilidades e competências por meio da qualificação profissional, com o objetivo de estar sempre à frente. Dessa forma, ganham os profissionais e as empresas, usufruindo de benefícios mútuos", finaliza.
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